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Gredos

Actividade: Ascensão ao Morezón (2398m) e ao Almanzor (2592m)

Local: Sierra de Gredos - Espanha

Data: Sábado e Domingo - 25 e 26 de Maio de 2013

Participantes: José Silva, Beatriz Silva, Catarina Ascensão, Luis França e Valdemar Freitas

Podem ver algumas fotografias aqui

Com a partida já previamente combinada para a noite de sexta-feira, dia 24, saiu-se de Valongo, pelas 22:00 horas, com passagem por Ermesinde e Gaia, para o agrupar dos participantes na actividade e depois fazermos a viagem durante a noite/madrugada, até à Plataforma de Gredos (1765m), com o atravessar da fronteira em Vilar Formoso, onde paramos para descansar um pouco, esticar as pernas e tomar um cafezinho, como é recomendável fazer em longas viagens, como esta.

Daqui, foi opção não ir pela auto-estrada até Salamanca, mas seguirmos pelas estradas nacionais até Bejar, com passagem por Barco de Ávila, até chegarmos à Plataforma de Gredos, onde aparcamos, cerca das 05:00 da manhã, horas portuguesas, ainda o dia não tinha nascido mas com belo luar e com a agradável recepção de um conjunto de cabras, que espantamos com as luzes dos faróis.

Já pelo caminho, tinham literalmente corrido à nossa frente, durante uns bons metros e por duas vezes, coelhos, viu-se ainda uma pequena raposa que atravessou a estrada à nossa frente, e de fugida, um javali, na penumbra da noite.

Aqui chegados, cansados dos cerca de 430 km da viagem, com pouco dormir e nenhum no caso do nosso condutor e guia, o sherpa José Silva, seguimos-lhe um bom conselho e tentamos descansar, dormindo cerca de uma hora, para então sim, iniciarmos a actividade a que nos tínhamos proposto.

No plano da actividade, estava inicialmente previsto, caminharmos até ao refúgio Elola (1950m) e depois de alojados, fazermos a ascensão ao Almanzor, mas por sugestão do guia, optou-se por subir primeiro ao Morezón e deixar a subida ao Almanzor, para a madrugada/manhã de Domingo.

De pesadas mochilas às costas, com todo o equipamento necessário, devidamente protegidos, contra o frio, vento e sol, abalamos pelo caminho empedrado afora, caminho este não natural mas com mão humana, atravessado ou bordejado aqui e ali, por velhas travessas das linhas férreas e que assim segue, quase na totalidade, até ao refúgio Elola.

Ainda não tínhamos chegado ao primeiro cruzamento e já tirávamos alguma roupa mais quente, luvas, substituíamos gorros por chapéus e colocávamos óculos de sol, tal era o calor que os primeiros raios de sol, nos oferecia.

Muito perto do local onde está instalado um pluviómetro e do acesso ao refúgio de Reguera Llano (1910m), depois de consultados os tracks nos GPS e de uma pequena vista de olhos ao mapa, subimos um pouco mais pelo empedrado, do qual saímos, à direita, encosta acima pelo Prado de Las Pozas, por entre a vegetação rasteira até entrarmos novamente no caminho que nos levou de encontro aos primeiros espaços com neve.

Fomos seguindo o caminho até a um alto com muita pedra (cascalheira, como ouvi dizer) onde paramos para mais umas fotos, ver a paisagem e localizar alguns pontos de interesse como por exemplo o Refúgio del Rey, em ruínas e o vale profundo até à localidade de Candeleda.

De volta ao caminho, pela cascalheira acima, fomos até ao local onde já com muita neve e com os crampons calçados, iniciamos a pendente mais inclinada até então, que nos levou até à cruz de ferro que assinalada o ponto mais alto do Morezón.

Estava feita a primeira ascensão, toda ela do tipo caminhada com bastões e numa pequena parte com crampons, sem grandes exigências e acessível a qualquer montanheiro.

De costas voltadas para o Almanzor, tiramos a foto de grupo que regista a nossa ascensão ao Morezón, comemos alguma coisa e de seguida fomos até mais uma elevação, onde um trio de espanhóis, preparava equipamento e cordas, para uma descida em escalada.

Faltava agora descer em direcção ao refúgio Elola e, depois de ponderadas algumas hipóteses, optou-se por voltar ao Morezón, contornar uma zona rochosa e aí fazer a descida.

Como a pendente era muito inclinada, o guia achou melhor que para além dos crampons, levássemos também o piolet e fossemos encordados, pelo que se preparou as cordas e o restante equipamento, de forma a seguirmos em dois grupos, a Beatriz mais a Catarina, num encordamento e o José Silva, o Valdemar e o Luís, noutro. Segundo nos explicou o guia, nas descidas encordadas, vão á frente os menos experientes e atrás os mais experientes, trocando a ordem se as encordadas forem para subir.

Descemos até meia encosta, percorremos o que julgo ser o Canal de La Mina, onde nos apareceu um esquiador em grande velocidade e nos disse Hola. Voltamos a subir, sempre com neve muito fofa até uma cornija com uma bela paisagem para ambos os lados da montanha, onde paramos uma vez mais, numa zona de muita pedra, para descansar e apreciar a paisagem.

De novo encordados, contornamos a zona rochosa, seguindo as mariolas até desembocarmos na Portilla de Las Hoyuelas, para aí sim, descermos definitivamente em direcção ao Elola, pois tínhamos que fazer o registo no refúgio, sob pena de ficarmos sem o lugar, apesar da reserva.

O mais difícil, fica sempre para o fim e esta descida iria ser o espelho disso mesmo, já que era muito íngreme, longa e quase sempre a direito o que dava uma visão real da inclinação que tínhamos que descer.

Com a Beatriz e a Catarina à frente e o nosso grupo mais atrás, com toda a segurança possível e muita atenção, fomos descendo, deixando para trás umas centenas de metros e as dificuldades iniciais, até que chegamos às pedras soltas, ainda uns bons metros acima da margem da lagoa, já à vista do refúgio e dos montanhistas que descansavam no seu terraço.

Mas antes, ainda levamos um enorme susto, com o resvalar de pedras encosta abaixo, entre o nosso grupo e o da frente que, felizmente não passou disso mesmo.

Chegamos ao refúgio, pouco deveria faltar para as cinco da tarde e, depois de termos garantidos os cacifos e lugares na camarata Hermanitos, preparamos as mochilas de ataque, descansamos antes do jantar e fomo-nos deitar ainda não era noite, pois tínhamos combinado a saída para a ascensão ao Almanzor, para as cinco da manhã, horas espanholas.

À hora prevista para despertar (4:15), todos nós nos pusemos a pé, mais ou menos dormidos, mas certamente muito mais descansados e fomos tomar o pequeno-almoço, para logo de seguida preparar o equipamento a levar connosco, para a subida ao Almanzor.

Pouco passava da hora prevista, ainda noite, com a lua à vista, que aos poucos ia desaparecendo entre os cumes, quando partimos todos equipados de crampons e frontais, encosta acima, trilhando um percurso já muito calcorreado por quem tinha feito a ascensão no dia anterior, com muitas e profundas pegadas, mais parecendo um campo de batalha, como alguém assim sugeriu.

Sem grande dificuldade, íamos nos aproximando cada vez mais do nosso objectivo, ou melhor dizendo, o nosso objectivo estava cada vez maior e mais perto dos nossos olhos, pois até lá chegar, ainda havia muito que subir.

Já com os primeiros raios de sol a surgirem nas nossas costas, chegamos ao local onde tivemos que nos encordar, para que, na máxima segurança fizéssemos a subida até então mais na vertical e com neve mais dura e gelada, até à Portilla del Crampón, subida esta que foi a mais difícil e morosa de se fazer.

Na parte final, com cerca de uns cinco metros, estava a “parede” de maior dificuldade, pois a neve gelada, obrigava a cravar a lâmina do piolet e cravar bem os crampons, depois de uns valentes pontapés, conforme nos explicaram os companheiros mais experientes.

Daqui em diante, até ao pico, só havia que escalar entre pedras e rochas, talvez aí uma centena de metros, com a maior dificuldade a surgir numa zona onde já existe uma amarração, para se montar uma corda, que para além de ajudar na subida, permite depois na descida, efectuar um pequeno rappel, até um pequeno patamar.

Eis-nos no topo, tínhamos acabado de “alcançar o Almanzor”, nas palavras do nosso guia, estávamos a 2592 m de altitude e a desfrutar dos 360º da magnifica paisagem que tínhamos à nossa volta e que fizéramos por merecer.

Com o frio e o vento a sacudir-nos e a pensar no regresso, demoramos pouco tempo no cimo, apenas o suficiente para algumas fotos de grupo e iniciamos logo a descida, pelo mesmo percurso da subida, até ao patamar onde termina o já citado rapel.

Daqui tínhamos duas opções, ou descíamos literalmente por onde subimos, com as inerentes dificuldades que saberíamos ter de enfrentar, ou optávamos por contornar o Almanzor para a direita, em direcção à Portilla de Los Cobardes e fazíamos o regresso por outro caminho.

Tomamos a segunda opção. A maior dificuldade, foi mesmo chegar até à dita Portilla, já que pelo facto de encosta estar numa zona mais sombria e abrigada, tinha a neve mais gelada, para além da pendente que tínhamos de atravessar, ser muito íngreme e com muita pedra em baixo mas, com uma ou outra técnica de cordas que praticamos, lá chegamos, apenas um pouco mais atrasados que o grupo das meninas, já com mais experiência.

Descemos da portilla, seguindo também um trilho já muito batido na véspera, sempre com neve muito fofa e a meia encosta até ao que no mapa se designa por Canal de los Geógrafos, que nos levou até às pedras que ficam nas cercanias do refúgio Elola.

Ao todo, na subida e na descida, demoramos pouco mais de seis horas, mas tivemos a noção que assim foi, porque não descuramos a segurança e houve o cuidado de dar mais tempo aos menos experientes, justificando dessa forma, uma velha máxima que diz que, “na montanha não há pressa, mas há que ter em atenção ao tempo de regresso” e isso foi acautelado e muito bem, pelo nosso guia.

Despedimo-nos do refúgio Elola pelo meio-dia, depois de termos arrumado o material mais técnico e as mochilas e de mais um almoço volante, para o caminho.

Pela frente, tínhamos ainda de fazer a longa caminhada de cerca de duas horas e meia até à Plataforma, onde tinha ficado o nosso carro.

Pelo caminho afora e à medida que nos afastamos e subimos, vamos tendo uma magnífica visão de todas as montanhas que circundam a Laguna Grande, uma bonita paisagem e um lindíssimo postal, que levamos na memória, de parte da Serra de Gredos.

A subida até ao miradouro, com passagem por diversos pontos de interesse como cascatas de água e uma fonte com lugares para descanso, é muito extensa mas, o seu sinuoso percurso, aos “esses” torna-a acentuada e menos penosa.

Muito perto do referido miradouro, onde existe uma placa de informação sobre o Circo de Gredos, deparamo-nos com uma cabra que nos esperava, muito quieta em cima de uma rocha, aguardando por algo de comer que lhe dessemos, tendo essa sorte ou o prazer de alimentar à mão um animal selvagem, à nossa companheira Catarina, momento esse registado em fotos, para “mais tarde recordar”.

O resto do caminho até ao carro, ainda custou, não pela dificuldade, pois é sempre a descer ou em plano, mas pelo cansaço que já trazíamos nas pernas e ao peso que levamos às costas, mesmo assim, lá chegamos, pouco passava das 14:30, para deixarmos de vez as mochilas, trocar de calçado e aliviar um pouco os pés.

Actividade que é do ARCM, como é da praxe, tem sempre que terminar à mesa e desta vez não foi excepção. Fomos lanchar a um café-bar chamado La Bodeguilla, onde nos tivemos que bater com uns enormes e baratos bocadillos, de para aí meio metro, de que nunca mais vamos esquecer.

Este café-bar, mais parecia um local de culto às actividades de montanha (alpinismo, montanhismo, escalada, esqui) tal era a quantidade de praticantes que depois de abandonarem o Elola, se transferiram para o La Bodeguilla, com muitos motivos decorativos relacionados com os desportos de montanha, fotos de conhecidos praticantes, como o nosso João Garcia e mapas em alto-relevo do Circo de Gredos, entre outros pormenores.

Aí reunidos, vários grupos de amigos, retemperam energias à mesa e relatam certamente experiências vividas na montanha, trocando entre si conhecimentos uteis para novas aventuras.

No meu caso pessoal, esta actividade foi a maior “aventura da minha vida”, como disse e bem a Beatriz, pois foi a minha primeira experiência em alta montanha, com acções que desconhecia, com técnicas que nunca tinha executado e equipamentos que nunca tinha usado.

Confesso que nalguns momentos, tive receio, tive noção que há perigo na montanha, sobretudo na parte final da ascensão ao Almanzor e numa ou outra situação de maior risco, mas digo que valeu a pena ter tido esta experiência, que por ser a primeira, nunca mais esquecerei, não deixando de agradecer aos meus companheiros de aventura e sobretudo ao José Silva, que sempre se mostrou atento e preocupado com a segurança de todos.

Concluindo, penso que é opinião geral, que se aproveitou ao máximo o tempo, que se fez tudo o que se tinha proposto fazer na actividade e que foi um excelente fim-de-semana, na prática de montanhismo e alpinismo, proporcionado pelo ARCM.

Parabéns a todos os participantes.

Valdemar Freitas