Em Dezembro de 2015, associados do Alto Relevo - Clube de Montanhismo (ARCM) reportaram o início de trabalhos num terreno onde se conhecia uma mina presumivelmente romana. No dia seguinte à Direção do ARCM ter tido conhecimento, efectuou um telefonema denunciando a situação à Câmara Municipal de Valongo num esforço de perceber se os trabalhos em curso previam o estudo e a avaliação da situação de forma a evitar a possível destruição de património arqueológico desconhecido. Sendo uma sexta-feira e não havendo disponibilidade imediata da fiscalização da autarquia para se deslocar ao local a obra avançou no fim-de-semana com o objectivo de terraplanar o terreno destruindo a mina. Perante a situação, alguns associados pediram para falar com os trabalhadores e informaram sobre a suspeita e sobre a ilegalidade que seria avançar com uma obra que destruisse património possivelmente arqueológico. Os funcionários contactaram os seus superiores e os trabalhos prosseguiram segundo as instruções que tinham.
Na prática tínhamos a esperança que nem tudo se tivesse perdido mas que se tivesse apenas destruído a entrada (cerca de 15m de galeria) que, com sorte e uma limpeza, ainda fosse possível salvar a mina possivelmente com quase 20 séculos de existência.
Denunciamos a situação, fizemos o nosso papel, tiramos fotos, documentamos tudo. A verdade é que só muito tempo depois se deu um embargo parcial daquela zona que originou a vinda de uma equipa do IPPAR que decidiu sobre a necessidade de estudar a cavidade dada a sua importância. Depois o embargo não foi respeitado. Terraplenaram a zona. Vimos e fotografámos camiões em cima da mina e máquinas de movimentos de terra em cima da mesma. Voltamos a denunciar a situação. Os fiscais, dias depois foram lá e reportaram não existir qualquer desrespeito pelo embargo (apesar das nossas fotos) e da mina estar agora completamente coberta e terraplenada. Entretanto a obra prosseguiu e arrasaram tudo até ao limite do terreno. Vemos agora que constroem uma estrutura para canalizar a água da mina (um problema para a obra), mas os acessos já não existem e perderam-se várias dezenas de metros. Não sabemos detalhes do relatórios da equipa de arqueologia, não sabemos o que se terá passado, mas o que sabemos é o seguinte:
- Há mecanismos que não estão a funcionar corretamente na fiscalização destas obras e na forma como se informam os munícipes e se respondem aos autores das denúncias. Apesar das provas apresentadas e dos nossos relatos as equipas nunca identificaram situações anómalas e tanto quanto sabemos nunca houve consequências para os responsáveis da obra que agiram em má fé. Destruíram sabendo o valor do que destruíam e sabendo ser ilegal. Ocultaram a existência de uma mina no projeto anexo ao pedido de licenciamento. Não respeitaram o embargo. Tudo isto parece que irá passar incólume. A única consequência terá sido a necessidade de contratar um estudo arqueológico e talvez algum pequeno atraso nos trabalhos. Mesmo assim, deveriam haver consequências para quem agiu contra o interesse público e na ilegalidade. Não poderão alegar desconhecimento ou inocência. Foram avisados por nós e pela Câmara Municipal. As equipas de fiscalização com os atrasos evidentes nas visitas ao local nunca “encontraram” nada de errado. Nós, passando na rua e por fora das barreiras, vimos sempre tudo e tirámos fotos.
- Há a necessidade de haver a identificação das áreas onde existem minas não só na na área das Serras (levantamento realizado pelo ARCM e outras entidades e presente no atual PDM com a consequentes condicionantes). As áreas de perímetro urbano próximas das Serras têm também vários vestígios arqueológicos que devem ser preservados pelo menos enquanto não são estudados devidamente. Se esta obra estivesse numa dessas manchas tudo isto poderia ter sido evitado. Assim que possível o ARCM continuará a trabalhar no sentido de fazer o levantamento possível destas situações e comunicá-las às entidades competentes.
- Não iremos deixar que situações semelhantes voltem a acontecer da mesma forma. Já efetuamos as recomendações às entidades para alterarem os procedimentos de forma a evitar situações futuras. Se de futuro a situação se repetir iremos recorrer a outros meios para impedir o avançar da destruição de património (chamar a comunicação social, mobilizar a opinião pública, etc.).
Está nos nossos objetivos preservar. Sabemos que não poderemos manter todos os vestígios. Nem todos são relevantes e nem todos poderão subsistir ao tempo e à pressão do urbanismo e das alterações da paisagem. Mas só saberemos quais poderão ser “descartados” depois de serem estudados. Tudo faremos para que isso aconteça e para que consigamos saber cada vez mais do maior complexo de mineração subterrânea romana aurífera do mundo.
Quase um ano depois e após vários pedidos por parte do ARCM sobre o ponto de situação, decidimos publicar este caso. Todos os esclarecimentos que nos foram dados indicam que os trabalhos de estudo e avaliação da cavidade ainda não estão concluidos pelas entidades competentes e que assim que tiverem concluidos seremos informados. Aguardamos pelo desfecho...