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Tomar CernacheBonjardim003Foi no dia 12 de Junho que um dos nossos associados (Valdemar Freitas) resolveu partir numa aventura de bicicleta pelos caminhos do nosso Portugal. É um excelente exemplo de como nada nos impede de fazermos aquilo que gostamos. Os colegas não estavam disponíveis, tinha tempo e vontade e foi apenas isso o que foi preciso. Aqui fica o seu relato:

"A ideia surgiu de uma pergunta que fiz a mim mesmo.

O que fazer nestes dias de férias marcados e que não posso adiar?
Sim, o que tinha idealizado para uns dias de férias em família, por diversas razões não se podia realizar e assim, iria ter três dias livres, para que os pudesse utilizar em alguma actividade que gostasse de fazer, talvez umas caminhadas ou um passeio de BTT.
Muito em cima da hora, já não daria muito tempo para planear um passeio de grupo e então fui marinando a ideia de um passeio a solo, faltando apenas escolher que passeio, ou seja de onde até onde, que caminho, que rota, que ainda não tivesse feito e passível de ser feito, sem grandes logísticas e planeamentos.

Um Caminho de Santiago, uma GR (Grande Rota), etc, etc.
Fui excluindo algumas opções até que por fim, se fez luz.

E que tal fazer o Caminho de Santiago/Caminho de Fátima, de Lisboa até ao Santuário e daí seguir para Tomar e, já agora, seguir mais um pouco do Caminho de Santiago, que passa pela cidade nabantina, até pelo menos Alvaiázere e daí rumar por estrada até Cernache do Bonjardim, terra do meu sogro e onde a minha esposa iria ter, no feriado do Corpo de Deus.

Bem, estava lançado o desafio e desde essa hora, foi um crescente o arrumar de ideias e de preparativos, que passaram também por saber a possibilidade de viajar em comboio e transportar comigo a bicicleta, custos, horários, etc.

Dessa busca e do pedido de ajuda a quem já o tinha feito, o Martinho Sousa, veio mais uma oportunidade, a de esse amigo se juntar a mim, no primeiro dia, acompanhando-me de Lisboa a Santarém.

E assim foi, na manhã de véspera de Santo António, dia 12 de Junho de 2017, de mochilas às costas e com as nossas bicicletas, embarcamos no Inter-Cidades, das 06:52, em Porto-Campanhã, rumo a Lisboa-Santa Apolónia, onde chegamos, pouco passava das dez, numa manhã de casamentos de Santo António, com a Sé de acesso restrito apenas para esse evento e muita confusão de trânsito, ao redor da mesma.


Nem paramos e seguimos para a igreja de Santiago, local que assinala em Lisboa, o inicio do Caminho Português a Santiago, mas também ela fechada e sem a possibilidade de aí colocarmos o primeiro carimbo nas nossas credenciais.
De Lisboa a Santarém, onde iria ficar alojado no albergue da Santa Casa, foram 96 km, todos eles numa etapa muito rolante, debaixo de muito calor (temp. máxima que marcava no ciclómetro 41,5º), apenas com uma excepção, a subida para Santarém.

Tivemos ambientes citadinos, como o velho burgo de Lisboa, a zona nova do Parque das Nações, trilhos junto ao rio Trancão e ambientes rurais com a passagem pela planície ribatejana e pelos campos de tomates, melões e outras explorações agrícolas e, já perto de Santarém, por uma grande zona de vinhas.
Do pior, foi o constante cruzar da linha ferroviária do Norte, ora por escadas, passagens superiores com rampas e ainda elevadores, muito mal higienizados, para não dizer completamente conspurcados e fedorentos.
Já com o alojamento à vista, despedi-me do meu companheiro, que iria regressar ao Porto, novamente no IC e a partir desse momento, fiquei entregue a mim mesmo e a uma experiência totalmente nova, pedalar nos Caminhos, fossem eles quais fossem, estrada ou monte, sozinho e em autonomia total.
No segundo dia, 13 de Junho, dia de Santo António e dia que também se adivinhava de muito calor, saí muito cedo, cedinho mesmo, pois para além do tempo quente, teria a serra e as grandes subidas.
Foram mais 93 km, já com trilhos de maior dificuldade, alguns mesmo a exigir alguma técnica e cuidados, atenção redobrada às curvas do caminho, aos buracos, aos regos, às pedras mas também à beleza das paisagens, que à medida que me fui afastando de Santarém, foram cada vez mais bonitas e espectaculares, como a praia fluvial de Olhos de Água, onde muito perto está a nascente do rio Alviela, os moinhos de vento, a serra de Minde, que apenas se sobe com a bicicleta pela mão, a não ser que não se siga o verdadeiro caminho de Santiago e que mesmo a pé, não será muito fácil à grande maioria dos peregrinos, a também descida para Minde, toda ela num trilho com muita pedra e a exigir muita técnica e, daí até Fátima, quase sempre em estradões ora a subir e consequentemente mais lentos, ora a descer e a proporcionar alguma adrenalina e maior velocidade.

Em Fátima já se sabe, local de culto e de silêncio, de preces e promessas, de muita gente por ser dia 13, feriado em muitas terras, dia de Santo António, cumpri as minhas obrigações, tirei algumas fotos e fechei a minha credencial e sai, para ir almoçar, se possível já a caminho de Tomar.
No que está designado pela Associação dos Amigos dos Caminhos de Fátima, como Caminho Nascente, entre Tomar e Fátima (fiz o inverso), encontrei lindíssimos trilhos em serra, rurais e estradas secundárias, tendo a parte mais difícil de todo esse trajecto, um longo single-track, de alto nível técnico, com muita pedra e grandes saltos, que obrigatoriamente me fez desmontar e percorre-lo na sua enorme maioria a pé, e mesmo assim não foi nada fácil, pois é quase sempre a descer e com muita vegetação a estreitece-lo.
Já muito perto de Tomar, percorri belos trilhos em floresta de pinheiros, até à estrada nacional que a descer nos leva ao muito bonito e esplendoroso, aqueduto de Pegões, onde tirei das mais belas fotos da minha aventura.
A cidade do Nabão, apesar de a conhecer muito bem, é sempre bonita e por isso mesmo, não perdi muito tempo, alojei-me e depois de um banho refrescante, parti sem demora na busca dos melhores disparos e enquadramentos fotográficos, antes que a noite caísse e a hora do jantar chegasse.

Se nos primeiros dias me levantei cedo, neste prometi a mim mesmo, apenas partir às oito da manhã, após o pequeno-almoço e ir à procura das setinhas amarelas, sim, porque neste dia, não havia track para seguir no GPS, como nos dois primeiros dias.
Mas seguir as setas, não é dificuldade para mim, se não houver falta delas e o caminho estiver, como se diz, bem marcado, o que não foi o caso, bem perto de Alvaiázere, onde no meio de um eucaliptal tive de tomar a decisão de optar por um dos caminhos, num cruzamento sem indicação do caminho correcto.
Foi apenas essa a vez que por pouco tempo não estive no Caminho, voltando ao mesmo, umas centenas de metros, logo após entrar numa localidade com o nome curioso de Lugar de Espanha.
Neste trajecto de Tomar a Alvaiázere, gostei imenso dos primeiros dez quilómetros, quase sempre em single-track e junto a um rio, que penso ser o Nabão e pouco mais, tirando as partes em monte, em estradão e algumas vias mais rurais e frescas, que acalmavam o calor, com as sombras que precisava e pontos de água onde me abastecer.

Sabia que ao chegar a Alvaiázere, tinha que decidir que estrada seguir, para me levar à Sertã e não tive dúvidas, quando vi a placa a indicar Ferreira de Zezêre, pois apesar de saber que iria ter subidas bem acentuadas para fazer, era essa estrada a que melhor conhecia e a que me levaria mais depressa, aonde a família me esperava e o almoço estaria na mesa.

Foi a minha primeira experiência a pedalar sozinho, durante mais do que algumas horas, com estadias, autonomia total e entregue ao que me pudesse acontecer, de bem e de mal, que adorei fazer, pois foi a forma de provar a mim mesmo, que podendo haver riscos, valeu a pena arriscar e viver esta aventura única, fazendo pelo menos duas coisas que adoro – pedalar e fotografar.

Valdemar Freitas"

Um exemplo inspirador de algo que está ao alcance de nós todos.